Como não me disseram que cortador de cana não tinha a menor possibilidade de aprender a jogar esse fino esporte, acabei trocando a foice pela raquete. E tive algum sucesso. |
Até os 17 anos de idade ele era um lavrador que
sobrevivia do corte da cana. O que ele não imaginava
é que exatamente esse trabalho duro iria lhe garantir
um futuro de sucesso, num esporte de elite, convivendo
com pessoas ricas e participando de competições
em todo o mundo. José Rodrigues da Costa,
goiano de Anacuns, descobriu o tênis por acaso.
Chamado por um tio para ajudar como pedreiro
numa obra, ele se deparou com a construção da primeira quadra de tênis de Brasília, onde passou a
observar que a técnica utilizada com o podão, a
ferramenta que serve para decepar a cana não era
muito diferente do slice, movimento dos jogadores
com a raquete. A partir dai foi um casamento da sorte com a determinação. Foi zelador de quadra, pegador de bolinhas, cuidador de equipamentos e rebatedor até que passou a dar aulas.
Aos 24 anos se tornava, na cidade onde chegou como bóia fria, Campeão Brasiliense da 1a Classe, título que manteve até os 26 anos, em 1974. Mudou-se para o Rio de Janeiro e de 1978 a 1999 foi pentacampeão, também de 1a Classe, pelo Flamengo, o que lhe valeu um lugar na Calçada da Fama, do Clube de Regatas.
Desde 2004, depois do divórcio com a mãé dos seus filhos "virou paulista" e hoje aos 63 anos é o campeão
nacional na categoria sênior da faixa dos 60 anos e o quarto colocado no ranking mundial, onde já esteve
no topo e quer recuperar o lugar até completar os 65 anos. Quem o conhece não duvida: ele vai conseguir.
Podão Amolado - Autoria de José Rodrigues:
Quando ainda era pequeno
Há um punhado de anos atrás
Eu tinha um podão amolado,
Cortando para todos os lados,
Nas lavouras de Goiás.
Sempre com cortes certeiros,
No swing do balanço,
O podão obedecia.
A cana sempre caia,
Deitava para o seu descanso.
Da roça para a cidade,
Não corto mais com o podão.
A raquete não corta cana,
Mas corta gente bacana
Com a mesma precisão.
Com o podão cortava cana,
Extraia seu sumo melado.
Com a raquete ganho a vida,
Com cortadas e rebatidas,
Para um doce resultado.
Hoje não tem mais lavoura.
A ferramenta mudou também
Que corta do mesmo jeito,
A bolinha com efeito,
Para um eterno vai e vem.
Com o corte da raquete,
As bolas vão curtas e no fundo,
Os adversários ficam queixando
Como as canas se curvando
Para um canavieiro nº 1 do mundo.
Jornal da 3a Idade - nº 69
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